Eu dançava, girando e girando. O mundo todo cabia debaixo dos meus pés. O suor escorria pela testa, caía uma gota no meu olho e então eu fechava os dois olhos com força e girava e dançava, com os braços abertos, abraçando a brisa, tentando segurar o nada e sentindo o coração subir e descer, quase saindo do peito. Ali, lembrei do pé de goiaba e daquelas goiabas verdosas que eu pedia ao meu avô para tirar do pé, puxando dos galhos mais baixos na fazenda onde cresci. Dançando, lembrando e girando, enquanto os meus pés latejavam, mas mesmo assim, não conseguiam parar. Era como quando eu andava descalça nos trilhos do trem, pisando nas britas, nos espinhos, os pés sujos de barro, pegando o caminho de volta, depois de descer a ladeira em direção à biblioteca. Eu avistava a praça de longe e nem pensava em parar para sentar no balanço ou descer no escorregador de cimento, só queria chegar em casa, passar pela cozinha, comer um milho cozido e ouvir “vai tomar banho, menina! Depois vem aqui para pentear os cabelos!”.
Mas que curadoria preciosa. Espero poder te ler mais ano que vem, Nat. Que os ventos de 2023 sejam mais suaves - tenho certeza que vão ser ♡