#11 notas para a manhã de amanhã
e lançamento do livro, e dica de filme, de música e outras coisinhas mais
[notas para a manhã
de amanhã
como esculpir essa saudade
de cheiro de livro novo
da areia
sujando os dedos dos pés
de Gal
como desenhar no papel
sentimentos etéreos
que me trazem o desejo
de alcançar a imortalidade
o impossível
um capricho assim tão íntimo
onde está a certeza de que sou eu
a dona de minhas ambições
como entalhar o abstrato
que seguro agora em minhas mãos
com tanta força que ele se dissipa
escapa por entre os dedos
notas para amanhã
que faça sol com pancadas de chuva
só para o caso de eu parecer
sufocar]
[Diário de escrita]:
Escrever alguma coisa até virar livro. Era só nisso que eu pensava. Escrever não é magia, não é místico, nem sublime. Escrever é trabalhoso, por demais trabalhoso, é esculpir palavras, e esculpir algo requer força, cuidado, atenção e uma certa sensibilidade. É tornar qualquer coisa abstrata, que a gente nem sabe que existe, ainda em fase de pensamento, em matéria palpável. Eu toco as palavras, você não toca? Terminar de escrever o meu livro e dar o ok para a editora, abrir mão do controle de tudo e entregar para vaguear no mundo algo que se formou completamente dentro de mim, foi uma das coisas mais difíceis que já fiz na vida. Perde apenas para a maternidade. Eu abri os meus cadernos mais íntimos, mexi em sentimentos, cavuquei a dor e lancei tudo para fora. Agora ele é nosso, o Pequenas cartas há tempos ensaiadas, e eu espero que ele encontre calmaria e conforto nas mãos de cada leitor. Naquelas páginas, amor!
[O livro da vez]:
A cada edição desta newsletter, eu trago uma recomendação de leitura. Desde o início, eu sonhava que um dia indicaria o meu próprio livro para os assinantes do Ensaiando Palavras. O tempo é de boas novas, este dia chegou e eu quero apresentar para você o "Pequenas cartas há tempos ensaiadas".
Este livro surgiu do profundo, daquilo que dava medo, do inexplicável e do querer curar o que ardia por dentro. Nos últimos anos, a poesia me inundou, colocou mais atenção em meus olhos, me rodeou de sensibilidade, e eu acho que ser poeta me mostrou um bocado de caminho bonito da vida. O ~pequenas cartas~ traz as miudezas do cotidiano em forma de poema, a simplicidade nos versos e a jornada de sentimentos que vêm e vão pelas esquinas da vida. Os passos das dores e dos conflitos se esbarram nos processos de amadurecimento, de reconhecer a verdade em suas próprias escolhas, na procura pela nossa força mais íntima, e vão cedendo lugar para a calmaria, para as pequeníssimas coisas, aquilo que parece ser banal, que nem sempre vemos mas sabemos que sentimos. No fim, poesia para mim é isso: a estética da simplicidade.
Eu vou ficar muito feliz em ter você como leitor ou leitora do Pequenas cartas há tempos ensaiadas. Quer pedir o seu? Fala aqui comigo!
[Para assistir]:
Três irmãs voltam para casa porque sua mãe está com câncer, e precisam lidar também com a morte repentina e dolorosa do pai. Daí em diante, a gente começa a acompanhar todos os conflitos que supostamente foram varridos para debaixo dos tapetes daquela família. Os diálogos são sempre nesse tom de “vamos colocar agora tudo em pratos limpos” e as histórias ocultas de cada um vai emergindo à medida que eles avançam no processo de dor, do luto e das tentativas de voltar a alguma possível normalidade, mas é através do não-dito que o filme fala muito mais. Os olhares, a tensão emocional espalhada por toda a atmosfera daquela casa antiga e quase escura além da conta, é bem ali que as ausências são percebidas. Todas as relações são complexas, e as relações familiares são, acima de tudo, agridoces em muitos momentos. Em situações de tensão e dor, como estas do filme, a gente começa a desvelar uma sequência de sentimentos e angústias que viviam guardadas debaixo do colchão, mas enquanto tudo parece desmoronar, outras histórias começam a ser reconstruídas. Foi assim na ficção, é assim na vida real.
[Ouvi enquanto escrevia]:
Um som intimista, uma batida que me ajudou a escrever esta newsletter, assim como vem me ajudando a descobrir novas formas de ouvir as coisas do mundo. Simon Winsé é de Burkina Faso e alimenta o seu universo musical com os ritmos do seu país de origem, onde o jazz fusion e o blues se fundem e resultam em um som único que vai mexendo com cada pedacinho do nosso corpo.
[Um trecho]:
“Pôr em questão os acontecimentos da vida, a veracidade da nossa própria história, além de exasperador, deve ter algo de saudável e bom. Talvez seja normal essa impressão contínua de estar perdendo o solo, talvez sejam as certezas que tenho sobre mim mesma e as pessoas que me têm rodeado sempre as que estão desaparecendo. Meu próprio corpo, que desde há muitos anos tem constituído o único vínculo crível com a realidade, me parece agora como um veículo em decomposição, um trem em que vim montada ao longo de tanto tempo, submetida a uma viagem muito veloz mas também a uma inevitável decadência.”
O corpo em que nasci - Guadalupe Nettel
[E tem mais]:
Você imagina que Clarice Lispector era feliz?
O livro “Daisy Jones & The Six” virou série e se você já leu, é provável que esteja sabendo dessa novidade. Caso essa informação seja uma surpresa para você, eu quero deixar aqui o meu ASSISTA À SÉRIE! Tô amando essa adaptação, que tá na Amazon Prime e já recebeu todos os episódios da temporada.
(não leu o livro? A experiência de assistir não atrapalha em nada)
vício velho: arte, literatura, livros e poesia. Tudo junto e misturado
Saramago e uma parte bonita da sua intimidade e de seu amor por Pilar, neste documentário de Miguel Gonçalves Mendes
As ilustrações de libbyvanderploeg me dão uma sensação de aconchego
Rupi Kaur tá com livro novo, já viu?
[Me encontre também]:
Ano 2 - (março/2023)
Leia as edições anteriores:
Entre em contato, se quiser conversar mais sobre os assuntos desta publicação. Até a próxima!
Beijos, Nat <3