olho para o lado
enquanto tudo parece
se desintegrar
e tento me seguro nos nestes
cacos
que caem aqui junto dos meus
pés
eu te garanto,
meu caro
não há nada neste
mundo
que seja mais breve
que a maldade
e devo lhe adiantar:
cada passo seu
(em direção ao abismo do nada)
apesar da perplexidade
me faz reforçar o sentido da urgência
do que merece deverá será
reedificado
a partir de através por meio de tantas mãos
que não ficará restará
um só fragmento que possa queira contar
nenhuma parte da a história pelas brechas
da sua boca.
→ tentei um formato novo aqui e coloquei um poema em processo de feitura, em sua versão bruta, para que você possa acompanhar comigo os riscos e os versos da criação. Me diz o que achou? Ficarei bem feliz em saber a sua opinião.
[Diário de escrita]:
Como faço para pegar a minha concentração de volta? Você saberia me responder? O ano começou tão lento por aqui… aos poucos, ando me convencendo de que passar uns dias sem escrever não parece tão assustador assim, se eu puder passar boa parte dos meus dias em um profundo estado de observação. Que a autocobrança não seja a minha principal adversária neste novo ano que chega, e que a minha criação se permita passar pelos períodos de pausa para que possa assentar as ideias da forma necessária para seguir o seu fluxo.
“Quem lê bem, escreve bem”, é a frase básica para todo escritor em formação. E é exatamente por causa dessa falta de concentração esquisita e inconveniente, que até as minhas leituras estão prejudicadas. Uns dias atrás, bati um ótimo papo com uma seguidora lá no instagram, sobre a dificuldade que ela está sentindo em manter o hábito de leitura frequente como gostaria e eu me identifiquei na hora com isso, porque ando meio distraída e lendo pouco também. O que fazer então? Nos perguntamos, e eu falei pra ela que pensaria em uma maneira prática de resolvermos essa frustração e, quem sabe, traria uma boa alternativa para nós duas e para quem também está vivendo nesse vazio de inquietação.
Bora selar o compromisso de ler diariamente 10 páginas de um livro, bora? Cê topa? Faremos assim: me acompanha lá no @ensaiandopalavras que eu me comprometo a te lembrar, incentivar e motivar todos os dias para que a gente possa retomar juntos o hábito da leitura.
→ em tempo, sobre o lançamento do meu livro: não tô conseguindo conter a ansiedade. Lançaremos em fevereiro, estamos ajustando alguns pequenos detalhes e já está quase em ponto de impressão. Eu confesso que tô com medo de abrir as páginas dele para o mundo, me ajuda a superar essa insegurança boba?
[O livro da vez]:
Falar sobre uma obra de Elena Ferrante não é nenhuma novidade por aqui na newsletter, não é mesmo? Eu trouxe a indicação de “A vida mentirosa dos adultos” por um excelente motivo: ele virou série na Netflix! Além de ser maravilhoso como tudo que essa mulher escreve (pelamordedeus, como pode ser tão genial, ein?).
Giovanna está crescendo, passando por todos os abismos emocionais da adolescência e descobrindo que tudo o que ela sempre acreditou e todos aqueles que ela sempre confiou, em algum momento, acabam trazendo à superfície os seus segredos, mentiras e as vulnerabilidades que ela não sabia que existiam. Relações familiares difíceis, surpresas de novas relações, histórias que ela não acreditava que pudessem ser vividas. Quando a gente deixa a infância, geralmente a vida adulta traz uma tsunami de sentimentos e nem sempre conseguimos lidar com tudo o que essa outra parte da vida nos entrega.
[Para assistir]:
Que filme! Só de começar a escrever sobre ele, eu já sinto os meus olhos lacrimejarem lentamente, como quem vai avisando que está para chegar um maremoto. O filme é simples, sem grandes efeitos. É sobre uma viagem de férias entre pai e filha. O que bate forte dentro da gente são os diálogos entre eles, os olhares de cumplicidade e admiração, é a saudade que fica, a dor que não é dita. Acho que fiquei muito mais sensível à história de Sophie e Calum, por buscar nas relações familiares fictícias algo que me aproxime das minhas próprias relações. Sophie reflete com melancolia sobre aqueles dias que viveu com seu pai e a gente fica se perguntando sobre tudo o que deve ter se passado entre aquelas férias e a saudade que elas deixaram pelo caminho. Aftersun é um filme sobre memórias (e companheirismo, e amor). Eu assisti pelo MUBI, veja o trailer aqui.
[Ouvi enquanto escrevia]:
Dia desses, lendo um livro, me deparei com uma cena em que a protagonista era muito fã de Fleetwood Mac e conta como a banda fez parte dos melhores anos e histórias da sua vida. Eu estava tão envolvida naquele livro, torcendo pelos protagonistas, me apaixonando mais e mais pela história, muito também porque o livro era cheio de referências musicais. Eu não sei você, mas sempre que estou lendo algo que traz referências de bandas e artistas que não conheço, sempre busco no Spotify e salvo para ouvir depois. Eu amo fazer isso, nunca deixo passar. Fora que sou ótima para descobrir novos sons de artistas de tempos atrás, uma verdadeira senhorinha apaixonada por músicas das gerações anteriores a mim. E foi assim com Fleetwood Mac, essa banda de rock do fim dos anos 60 que eu me apaixonei. Tô ouvindo agora, curtindo o som enquanto escrevo esta edição para você. Ouve aqui:
[Um trecho]:
“Eu que venho da dor de viver. E não a quero mais. Quero a vibração do alegre. Quero a isenção de Mozart. Mas quero também a inconsequência. Liberdade? é o meu último refúgio, forcei-me à liberdade e aguento-a não como um dom mas com heroísmo: sou heroicamente livre. E quero o fluxo”.
Água viva - Clarice Lispector
[Sobre o podcast]:
O Ensaiando Palavras Podcast está de férias, mas, me diz aqui uma coisa: você já maratonou os episódios todos que estão disponíveis? Se liga! Tem crônica e poesia, leveza para os seus dias. Vem cá e ouve aqui:
[E tem mais]:
- Eu quero muito que você conheça a revista Ruído Manifesto. Uma completa jornada pela literatura, a crítica e o audiovisual. De antes, e de agora.
- letra no canto da boca, um podcast da escritora Lorena Portela. Tem contos, crônicas, cartas, ficção e não-ficção. Coisas que ela escreve, agora, lidas para o mundo. Uma delícia!
- Niilismo otimista: “a existência humana é assustadora e confusa…”. Na última newsletter da Aline Valek, ela recomendou este canal e eu fiquei mergulhada nele por horas. Trouxe este vídeo pra você e recomendo o passeio por todo o canal.
- Chegou a 6ª temporada de This is us no Prime e eu não sei como lidar. Já comecei a organizar os sentimentos aqui porque essa despedida não será fácil. Essa série é um espetáculo!
[Me encontre também]:
Ano 2 - (janeiro/2023)
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Até a próxima!
Beijos, Nat <3